
Nossos professores realmente são mal remunerados. Ganham, em média, 60% a menos que outros profissionais com o mesmo nível de escolaridade. Muitos administradores púbicos ainda tratam o professorado como uma espécie de "vocação missionária", quase religiosa, que exige sacrifícios. Os mais velhos talvez lembrem da frase "professor não é mal pago, é mal casado". Já foi atribuída a vários políticos, apesar de todos a repelirem, mas é a representação desta forma de tratar o professor.
Várias pesquisas indicam que a atuação do docente é, depois das condições sócio econômicas do aluno, o principal fator que influencia o rendimento escolar. Certamente aumentar a remuneração é uma das condições para melhorarmos a qualidade da educação. Mas não é a única.
Um professor que vive cercado de livros, jornais e revistas, além de frequentar bons sites de internet, certamente tem mais possibilidades de construir estratégias pedagógicas do que aqueles que vivem longe dessa realidade. Dedicar tempo a conhecer outras culturas, como visitar museus, fazer viagens, analisar pesquisas, conversar fora de sua rede de amigos, entre outras coisas, dá a um professor uma melhor compreensão da diversidade do mundo.
Ter contato com várias estratégias pedagógicas e estar aberto para compreendê-las faz diferença. A educação bancária, na qual o professor deposita conhecimento na cabeça do aluno, apesar de ainda ser a mais utilizada no Brasil, traz pouquíssimos resultados na construção da autonomia e no desenvolvimento das capacidades cognitivas do estudante. Ter tempo para tudo isso e para outras coisas importantes, como planejar aula, é fundamental. O professor que fica o dia todo dando aulas tem poucas chances de se atualizar.
É neste sentido que a formação continuada deve ser repensada. Professores precisam "aprender a conhecer". Em todo professor é necessário que se incentive, ou que se recupere, a curiosidade intelectual. Com curiosidade intelectual, é necessário que o professor possa exercê-la. Para exercer essa curiosidade, são necessários estrutura, condições econômicas e tempo. Um professor que ganha pouco, em uma cidade sem biblioteca e acesso a internet e que dá aulas o dia todo, mesmo que adquira essa curiosidade, terá poucas chances de exercê-la. É do exercício desta curiosidade intelectual e dos processos cognitivos relacionados a ela que teremos a melhoria da qualidade do que é feito dentro das escolas brasileiras.
Fonte: Artigo adaptado da coluna do Ig
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