Na Luta pela Escola Pública

Este blog pretende criar um espaço para informações e discussões sobre Escola Pública na Região dos Lagos, com destaque para o município de Cabo Frio.

O nome “Pó de Giz” é tomado, por empréstimo, do antigo time de futebol dos professores do Colégio Municipal Rui Barbosa. Um colégio reconhecido por sua luta pela educação pública de qualidade. Um lugar onde fervilha a discussão educacional, política e social. Colégio que contribui de maneira significativa na formação de seus alunos, lugar onde se trabalha com o sentido do coletivo.

O " Pó de Giz" é uma singela homenagem a essa escola que tem um "pequeno" espaço educacional, mas corajoso e enorme lugar de formação cidadã.


sábado, 10 de maio de 2014

Aos alunos e alunas da REDE ESTADUAL:

"CARTA AOS MEUS ALUNOS

Meus caros e queridos alunos,

Não estou em mais uma greve por aumentos salariais. Muito embora eu entenda que meu salário seja insuficiente para a quantidade e intensidade do trabalho que desempenho a cada semana, não vejo nisso o maior problema da educação pública do Estado e da cidade do Rio de Janeiro.

O que me incomoda e me desgasta profundamente é encarar as péssimas condições de trabalho que me cercam no exercício cotidiano da minha profissão. É ter de me desdobrar para conseguir fazer um bom trabalho pedagógico quando a única coisa que a secretaria de educação quer de mim é que eu seja um burocrata em busca de metas. É ter de nadar contra uma forte correnteza para poder fazer o que amo de forma correta e coerente.

Há quatro anos trabalho nas escolas do Estado. Há quatro anos trabalho em escolas sem número suficiente de inspetores, sem projetos pedagógicos de fato, sem psicopedagogos, sem ferramentas de trabalho facilmente disponíveis aos docentes, sem instalações adequadas para o desenvolvimento das minhas aulas, com números exorbitantes de alunos por turma, com várias turmas em cada matrícula que tenho como funcionário público, sem a devida segurança para a comunidade escolar e vendo a minha mão de obra sendo terrivelmente precarizada por um processo mesquinho de burocratização da docência, processo esse que no projeto do atual secretário de educação se estende para todos os profissionais da educação, inclusive os diretores.

Estou em greve porque o único projeto que esse Estado tem para o filho do pobre é fazer com que a polícia invada seu bairro e o extermine. Os meus alunos não têm acesso a uma educação de qualidade, que amplie seus horizontes e suas possibilidades na vida. Aliás eles também não têm acesso a uma saúde pública de qualidade, a um transporte público eficaz e muitos sequer tem acesso ao saneamento básico, a uma alimentação adequada e à moradia. Soma-se esses fatores que chegaremos à conclusão de que os alunos da rede pública de nosso Estado não têm, via de regra, direito à cidade. Mas se eles "saírem da linha", aí o Estado aparece, na figura da polícia assassina que temos.

Estou cansando de ver o filho do pobre (entre os quais, friso, eu me incluo) sendo tratado como problema e não como um projeto, como um objetivo. Nenhuma sociedade pode ter futuro sem ter um projeto de educação,e sem que esse projeto seja progressista. Somos a sociedade das chacinas, dos linchamentos, do extermínio da juventude pobre e negra, do racismo, da homofobia, da intolerância e da estrutura urbana violenta. Não consigo ver uma caminho para solucionar essas questões que não passe pela mudança radical do atual quadro de nossa educação pública.

Por isso, meu queridos alunos, não é por salário, nem por R$0,20, nem por nenhuma causa gratuita. É por vocês que estou parando, cruzando meus braços e me recusando a trabalhar numa escola de faz de conta. Não finjo que sou professor, assim como vocês nunca fingiram que são meus alunos. Então, que a nossa escola seja de verdade, pois de mentira já basta esse Estado...

Juntos na luta, meus caros! Estamos do mesmo lado..."


Prof Denis De Barros Zepa 

Nenhum comentário:

Postar um comentário