O Ministério da Educação prepara um novo currículo do ensino médio em que as atuais 13 disciplinas sejam distribuídas em apenas quatro áreas (ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e matemática).
Mudança é boa, mas difícil de aplicar, dizem educadores
Enem será o modelo do novo currículo, afirma Mercadante
A mudança prevê que alunos de escolas públicas e privadas passem a ter, em vez de aulas específicas de biologia, física e química, atividades que integrem estes conteúdos (em ciências da natureza).
A proposta deve ser fechada ainda neste ano e encaminhada para discussão no Conselho Nacional de Educação, conforme a Folha informou ontem. Se aprovada, vai se tornar diretriz para todo o país.
Educadores entrevistados pela reportagem afirmam que a mudança curricular no ensino médio proposta pelo governo federal é positiva. O problema, segundo eles, será a implementação.
MEC vai propor a fusão de disciplinas do ensino médio
Enem será o modelo do novo currículo, afirma Mercadante
"O currículo hoje é de fato muito fragmentado", afirma o vice-presidente do Consed (conselho que reúne os secretários estaduais de Educação), Klinger Barbosa Alves. "Mas a mudança proposta requer uma série de providências que não são simples."
A principal dificuldade, afirma, é que os atuais professores foram formados em licenciaturas específicas, como física ou matemática.
O novo modelo exigirá que ou o docente saiba mais de uma área ou tenha uma integração forte com os professores das demais disciplinas.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o secretário da Educação de São Paulo, Herman Voorwald, afirmou que "a reformulação do currículo é essencial para aprimorarmos o desempenho dos alunos no ensino médio, cujo avanço é um desafio para o Brasil e para diversos países".
Voorwald diz que discute alterações desde o ano passado com representantes da rede estadual paulista.
Para a diretora executiva da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, "não há dúvidas" de que a atual organização do currículo afeta a qualidade do ensino médio.
"Hoje o aluno sai sabendo nada de tudo", afirmou.
"O problema é que o currículo fragmentado funciona como uma reserva de mercado para os professores. Vai haver muita resistência contra essa mudança."
Para o doutor em educação Celso Ferretti, "é positivo criar abordagem interdisciplinar". No modelo ideal, diz, deveria haver integração inclusive entre as grandes áreas.
"O aluno deve saber que o laser é uma tecnologia criada para guerra. Ou seja, são conhecimentos de física, de matemática e de história".
Qualquer integração, porém, vai exigir uma profunda reorganização dos colégios, afirma Ferreti. Ele diz que os professores terão de programar as aulas juntos e, por isso, não poderão ganhar apenas para o período de aulas. (FÁBIO TAKAHASHI)
Folha - Como melhorar o ensino médio?
Aloizio Mercadante - A primeira providência é a substituição da Prova Brasil pelo Enem. Hoje o ensino médio é avaliado por uma amostra da Prova Brasil, com 70 mil alunos. O Enem tem 1,5 milhão de inscritos entre os concluintes do ensino médio.
O exame vai ter ainda mais importância com a política de cotas nas universidades federais [deve ser a forma de seleção dos beneficiados].
As escolas públicas passarão a ser cobradas por quantos alunos aprovaram nessas universidades.
O aluno vai deixar de ter alguma matéria com a reforma curricular?
Não. O Enem é estruturado em quatro campos do conhecimento, que concentra as matérias. E será a partir deles que queremos organizar o currículo das escolas. O Enem será o organizador do ensino médio, pois já seleciona para o Prouni, o Fies...
fonte: Folha de São Paulo
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