Na Luta pela Escola Pública

Este blog pretende criar um espaço para informações e discussões sobre Escola Pública na Região dos Lagos, com destaque para o município de Cabo Frio.

O nome “Pó de Giz” é tomado, por empréstimo, do antigo time de futebol dos professores do Colégio Municipal Rui Barbosa. Um colégio reconhecido por sua luta pela educação pública de qualidade. Um lugar onde fervilha a discussão educacional, política e social. Colégio que contribui de maneira significativa na formação de seus alunos, lugar onde se trabalha com o sentido do coletivo.

O " Pó de Giz" é uma singela homenagem a essa escola que tem um "pequeno" espaço educacional, mas corajoso e enorme lugar de formação cidadã.


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Palestra "Motivacional"

Atendendo ao convite da Secretaria de Educação de Cabo Frio fomos ao Tamoyo participar da Jornada Pedagógica - " Educação : consciência coletiva de direitos".

Chamou-nos à atenção o tema da jornada.

Esperávamos uma excelente discussão sobre a quantas anda a educação no país e, principalmente, no município.

Infelizmente, dessa discussão importante e necessária não vimos nada.

O que presenciamos foi uma palestra motivacional, daquelas que as empresas contratam para que seus funcionários produzam mais e felizes.

Para que vocês entendam o que assistimos vejam o arquivo disponível na net.

Ele iniciou dizendo que descobriu que não iria enriquecer sendo professor, afinal professor não é valorizado. Parece-nos que ele achou o caminho para isso. A palestra de hoje é a prova. Foram 60 mil reais em três dias, 20 mil por dia.

Víamos nos rostos das pessoas uma alegria em ouvir coisas do tipo : " Ser professor é comprometer-se com a auto-superação" ou "precisamos nos reformar".

A fundamentação teórica apresentada foi dentro da dimensão afetiva, humana e, até, técnica da aprendizagem, mas em momento nenhum foi trabalhada a a dimensão política. Prova de uma total incompatibilidade entre o tema da jornada e a palestra "motivacional" proferida.

Quando visualizamos um slide que, talvez, pudesse render uma apreciação crítica sobre educação, não tivemos nem ao menos 3 minutos de argumentação: uma pena.

A palestra durou aproximadamente três horas.

Para finalizar, com o argumento do fato histórico da queda do muro de Berlim, o palestrante fez seu "Grand Finale": reproduziu um vídeo da banda Scorpions e a Orquestra Filarmônica de Berlim em que eles tocam em perfeita sintonia, deixando-nos a mensagem que na escola, ou em nossas vidas, precisamos ser harmoniosos, sintonizados, produzindo um lugar onde as diferenças possam ser anuladas e sem conflitos.

Então, vocês podem dizer: mas vocês reclamam de tudo, assistem a tudo com um olhar negativo, não conseguem reconhecer o lado bom de nada.

Não é verdade.

Apesar de não gostarmos nadinha de auto-ajuda, sabemos que sempre é possível tirar uma ou outra mensagem para nossa vida, melhorarmos como pessoas, mas aquele espaço hoje deveria ter contribuído para a formação dos professores, deveria ter nos provocado o conhecimento, e não apenas contribuído para alienação coletiva dos professores dessa cidade.

Não nos foi possível dizer absolutamente nada, não houve um espaço de troca. Isso mesmo, o palestrante não abriu nem cinco minutos de debate. Era arriscado demais. Caso utilizássemos o microfone, o "transe" poderia ser quebrado e, talvez, algumas pessoas saíssem de lá com uma ou outra reflexão.

Assim, todos saíram em êxtase.

E vamos enfrentar o calor, o salário, e as turmas lotadas mais felizes em 2011. Estamos "motivados".

2 comentários:

  1. Garanto que eu estaria muito mais motivado para trabalhar esse ano se tivesse recebido R$20mil por um dia de trabalho, vai ver foi por isso que o palestrante estava tão animado! Se a Seme-CF distribuísse comprimidos de fluoxetina o efeito teria sido melhor e mais duradouro. Realmente não houve troca de experiências, nem abertura para questionamentos ou discussões...muito legal essa consciência coletiva.

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  2. Nem falei do vídeo/animação da locomotiva...
    "Vamos, enfretemos o obstáculo!"
    Nessa hora eu queria muito sair do salão, mas resisti.
    As correntes que amarravam os elefantes me sugeriu o professor temoroso.
    Ficamos presos à elas, sem ter a noção que podemos nos livrar das amarras e lutar por uma educação de qualidade.
    Somos como eles: cansamos da luta e permitimos que nos façam escravos.

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