Na Luta pela Escola Pública

Este blog pretende criar um espaço para informações e discussões sobre Escola Pública na Região dos Lagos, com destaque para o município de Cabo Frio.

O nome “Pó de Giz” é tomado, por empréstimo, do antigo time de futebol dos professores do Colégio Municipal Rui Barbosa. Um colégio reconhecido por sua luta pela educação pública de qualidade. Um lugar onde fervilha a discussão educacional, política e social. Colégio que contribui de maneira significativa na formação de seus alunos, lugar onde se trabalha com o sentido do coletivo.

O " Pó de Giz" é uma singela homenagem a essa escola que tem um "pequeno" espaço educacional, mas corajoso e enorme lugar de formação cidadã.


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Vamos vencer essa!

Colegas,
Venho neste momento dar o meu pitaco na discussão a cerca do andamento da greve, etc, etc.
Acabo de voltar da assembléia do SEPE, realizada na Fundição Progresso, e, em lá estando, ouvindo as considerações de outros colegas da rede - e uma série de pequenos pilantras oportunistas que sabemos que se valem de momentos como esse para promover seu partido, sua candidatura, sua patota, o diabo que seja! - , pensei muito sobre o nosso movimento, sobre o que temos feito em nossa escola.
Não sei se compartilho da opinião ou das espectativas dos colegas, mas, imagino que ser professor é das profissões mais difíceis que existem. Professor público, pior ainda. Talvez seja uma das ocupações humanas de maior teor político existente em uma sociedade moderna dita democrática, soberana e republicana. Lidamos diretamente com aquilo que se propõe chamar de "projeto de nação". Construímos
efetivamente nosso país em sua cidadania e participação civil a cada dia de nosso trabalho. Somos a encarnação do estado de direito, transformando individualidades em coletividade. O estado se faz presente no indivíduo, através de nossa atuação. E se o fizermos de maneira democrática, assim construiremos uma sociedade democrática. Se o fizermos de maneira participativa, assim construiremos uma sociedade participativa. Se o fizermos de uma maneira cidadã, assim construiremos uma sociedade
cidadã. Ipso Facto.
Mas é isso que nós temos feito? Pense bem.
Novamente, não sei se compartilho essa experiência com os colegas, mas venho observando há algum tempo, o esfacelamento moral a que vem se sujeitando o profissional de educação. Parece haver uma impressão geral de que professor é otário, no melhor dos casos, e tarado, pedófilo, safado, no pior. Poderia
estar ganhando mais dinheiro em outro setor? Talvez. Poderia estar ganhando mais dinheiro ensinando uma meia dúzia de filhinhos de papai a passar de ano no Ph? Certamente. Mas toda vez que essas questões se colocam, tentando me fazer sentir um fracassado, a frieira no pé da bactéria presente no cocôdo cavalo do bandido, me lembro:
a) Do imenso orgulho que tenho quando vejo ex-alunos hoje ingressando em universidades públicas, assegurando o menos uma possibilidade concreta de melhorar suas vidas, crescendo como pessoa e como cidadão;
b) Do magrelo espinhento que ingressou na universidade com o sonho de que é possível melhorar esse mundo através da educação;
c) Do compromisso que assumi comigo mesmo, ao ter meu filho em meu colo pela primeira vez, de lhe entregar um mundo melhor do que o que me acolheu, e entregar ao mundo um garoto melhor do que eu fui.

Isso me faz dormir tranquilo. Tenho um - desculpem-me o termo - PUTA orgulho de ser professor. Eu ESCOLHI
sê-lo. Poucos podem dizer o mesmo.

Mas nos encontramos em um momento crítico de nossa história profissional. Observem como debates acerca da educação vêm tomando conta do noticiário, das mídias, do cotidiano dos pobres mortais como eu e você.
O depoimento da professora Amanda Gurgel é muito oportuno. Mas é novidade para você? Será que você já não ouviu algo desse tipo. Melhor, será que você já não DISSE algo assim? No entanto, acho que cometemos o pecado de pregar para convertidos. Ou seja, do ponto de vista prático, cruzamos os braços e esperamos uma melhoria significativa milagrosamente cair dos céus. Ainda do ponto de vista prático, pergunto: tem funcionado?
Deflagrou-se a greve. A reboque do movimento dos bombeiros, pode-se discutir, equivocada, pode-se argumentar, mas, fato: a greve esta aí. E, fato também: com uma surpreendente força como jamais vi em meus parcos 7 anos de magistério estadual. É um fato animador.
Fatos também:

1) A SEEDUC proclama aos quatro ventos que cerca de 1% apenas dos profissionais aderiram à greve.
2) Por outro lado, a SEEDUC toda poderosa negociando com apenas 1% dos profissionais? Nossa! Imagine se nós conseguíssemos, sei lá, DOBRAR, esse percentual! Imagine o que não faríamos com 2%! Nossa! 2%!!!!
3) Acompanho DIARIAMENTE o noticiário da greve, e DIARIAMENTE encontro novidades, tanto de veículos de mídia do conglomerado global, quanto da Record, do grupo EJESA, etc. Esse estardalhaço todo por cauda de 1%? Nossa!
4) Direto do site R7, de notícias (http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/apos-55-dias-em-greve-secretario-anuncia-de-reajuste-a-professores-grevistas-20110801.html)
A Seeduc ressalta, ainda, que tem, à disposição, 2.100 contratos temporários autorizados para professores a partir de 1º de agosto. Esses docentes poderão ser contratados no caso de haver necessidade de reposição de aulas.
5) 2100 contratos para cobrir 516 grevistas xexelentos?
6) 3,5 % de aumento proposto pelo governo equivale a aproximadamente R$ 26,00. Com esse dinheiro você pode:
a- Comprar 2 Kg de Alcatra, Maminha ou Contrafilé, no Prezunic em promoção
b- Comprar o livro Histórias de Professores que Ninguém Contou, de Gabriel Chalita - o Fabio Junior da pedagogia
c- Comprar uma camisa falsificada da seleção brasileira para assistir à copa do mundo que será realizada aqui!

Está bom pra você? Pra mim não.

A sua inação está nos custando 22,5% de reajuste EMERGENCIAL!
A sua inação está nos custando mais 3 parcelas do Nova Escola
A sua inação está respaldando a meritocracia capenga e mal-adaptada de um mundo empresarial/corporativo que NÃO É O NOSSO!
A sua inação está respaldando uma avaliação externa, criada por uma empresa PRIVADA de FORA DO NOSSO ESTADO, e que está, certamente, fazendo alguém sorrir de orelha a orelha, e, surpresa! Não é você!
A sua inação corrobora a opinião geral de que professor é um bando de fracassado, recalcado fadado a um infarto ou um avc, pra deixar de ser otário.
A sua inação está custando o ORGULHO de ser educador, numa sociedade que, a cada dia que passa, premia mais e mais a esperteza a ambição, o consumo e o individualismo, em detrimento de valores como honestidade, solidariedade e participação.

Essa é a hora em que o medo vira raiva! É a hora de entrar com tudo. De dizer CHEGA! Sou um educador e EXIJO ser tratado com respeito!

Se você é mais um desses "abnegados" que não aderem à greve para não "prejudicar meus alunos de 3º ano, que tal pensar:
"O que será desses meninos quando eles se forem? Irão para uma universidade? Ou serão mais um McEscravo? Um Bob'sBobão - NA MELHOR DAS HIPÓTESES?"
Que tal ser REALMENTE abnegado, e, lecionar para seus alunos em praça pública? Ou lecionar para seus alunos, mas EXIGIR o código 61?

Você está garantindo que seus alunos farão um bom vestibular (se é que vestibular é bom) e ainda assim, estará dentro do movimento!
Você tem dúvidas quanto a validade da greve? Eu também! Você teme o corte de ponto? Eu também! Mas como diz a citação,
Antes a tristeza da derrota, que a vergonha de nunca ter tentado!
Nossa luta é justa. É por dignidade. É pelo nosso orgulho! É por respeito. É para que, daqui a muitos anos, eu possa olhar para trás e, na certeza do dever cumprido, saber que nada disso foi em vão. Esta greve não nos garante absolutamente NADA, a não ser nosso direito de nos indignar.
Parece pouco, mas acredite: há coisas muito mais importantes que dinheiro.

Por email, Prof.Waine Vieira Junior

Um comentário:

  1. Muito obrigado, Profa. Denize! Muitíssimo obrigado, de coração!!! Vamos vencer essa sim!!!
    Grande abraço!
    -Waine

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