RIO - Wilson Risolia assumiu a Secretaria estadual de Educação com a missão de melhorar o desempenho das escolas públicas do Estado do Rio no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do MEC. Hoje, o Rio só está à frente do Piauí. Até 2013, ele quer que o estado esteja entre os cinco melhores do país. Para isso, um ambicioso sistema de metas foi criado e começa a ser aplicado este ano, com avaliações bimestrais.
Ainda sob desconfiança de boa parte dos professores, ele recebeu cinco estudantes da rede estadual para um papo sem assunto proibido. Falou-se, por exemplo, de passe-livre, superlotação das salas de aula e o controverso plano que dará bônus para escolas que atingirem os objetivos. Risolia, ex-aluno da rede estadual, defende que bons professores devem ganhar mais. E afirma de antemão: "Se a gente errar, eu me desculpo, mas tudo foi feito pensando em melhorar a educação de vocês".
O Estado do Rio só está melhor que o Piauí no Ideb. O que o senhor pretende fazer para melhorar esta situação? (Fábio Cristóvão, Colégio Estadual Infante Dom Henrique)
WILSON RISOLIA: A posição do Rio de Janeiro constrange todo mundo: aluno, professor, o próprio cidadão. É preciso investigar como chegamos nesta situação, e foi o que fizemos nos últimos meses. Mais de um terço dos nossos alunos têm defasagem idade/série. Temos 47% das matrículas no ensino fundamental, que é de responsabilidade dos municípios. Como eles não atendem, somos obrigados a assumir boa parte dessa demanda. Fizemos um levantamento e um quarto das escolas estão em péssimo estado. Nós criamos um plano para os próximos 12 anos, com avaliações bimestrais para ver se está dando certo, mas resolver isso é complicado.
A sua primeira medida foi cortar R$ 111 milhões do orçamento, mas as salas de aula onde estudo estão lotadas. Isso não vai na contramão da melhora das escolas? (Thaís Araújo, Colégio Estadual Souza Aguiar)
RISOLIA: O investimento aumentou, o que reduziu foi o gasto. Investimento é para melhorar a condição para professores e alunos. Já gasto é quando eu compro guaraná. Economizamos de um lado para poder gastar do outro. Com o dinheiro que conseguimos guardar, nós pagamos o vale-transporte para os professores, que davam aula em duas unidades e precisavam se locomover. Sobre as salas cheias, o problema é que muitos municípios pedem para abrirmos turmas de ensino fundamental nas nossas escolas, porque eles não dão conta. Aí, precisamos juntar duas turmas do ensino médio para poder liberar uma sala. Se não fizermos isso, a meninada vai ficar na rua. Essa realidade é muito triste e cruel.
Os estudantes querem participar mais ativamente da escolha dos diretores. No meu colégio, nomearam uma diretora sem vínculo com a comunidade e criou-se uma situação complicada. Eleições diretas não seriam melhor do que uma prova? (Jonatas Alcântara, Colégio Estadual Fernando Figueiredo)
RISOLIA: Primeiro, não é só uma prova para ser diretor. É um processo seletivo que tem quatro fases. Na primeira, é feita uma análise do currículo, para ver se a pessoa tem as habilidades necessárias para exercer a função. Depois, é realizada uma prova objetiva, na fase dois. Em seguida, a entrevista com psicólogos que vão identificar se aquele professor tem perfil para diretor. Às vezes, o profissional é ótimo em sala de aula, mas não tem capacidade gerencial. Após tudo isso, ainda há outra prova sobre gestão escolar. Criamos um filtro para selecionar a pessoa certa para a função certa. E ele será avaliado também. Duas avaliações negativas, o diretor está fora. Podem ter certeza que se algum se recusar a debater com os estudantes, vamos saber antes de vocês. O voto tem o lado bom e o lado ruim. Que segurança teremos de que aquele professor eleito tem o melhor perfil para ser diretor?
Hoje, há um limite no número de viagens do passe-livre dos estudantes. Isso atrapalha quem tem atividades extracurriculares. Haverá alguma mudança nesse sentido? (Fábio Cristóvão, Colégio Estadual Infante Dom Henrique)
RISOLIA: Quanto ao passe-livre, é fundamental ter esse controle, porque antes você tinha estudante que pegava o cartão e não aparecia mais na escola. O passe é livre para vocês, mas o governo paga por ele. E o dinheiro sai do mesmo bolso que paga saúde, segurança etc. Poderíamos aumentar o número de viagens? Sim. Mas o orçamento tem restrição. Tomara que no longo prazo consigamos colocar mais recursos para transporte.
O curso Normal passou por algumas mudanças recentemente, agora é integral e não há mais prova de seleção. Isso pode afugentar estudantes que precisam trabalhar. O senhor concorda com o que foi feito? (Gabriela Venâncio)
RISOLIA: Discordo do fato de, hoje, não existir mais um processo seletivo para o curso Normal. Normalista é vocação. Quando você abre, qualquer um entra, desde quem quer mesmo ser professor até quem só quer entrar ali porque o ensino é melhor. Isso faz com que se perca a qualidade. Agora, sou a favor do ensino integral. E precisamos apoiar as normalistas que quiserem seguir para a universidade também, através do reforço.
Muitos professores abominam o plano de metas em sala de aula. Os estudantes temem também que ele gere aprovação automática e aumente as diferenças entre as unidades. O senhor poderia esclarecer? (Lucas Chequetti, Colégio Estadual Amaro Cavalcanti)
RISOLIA: Você já se consultou com médico particular? Tem médico que custa R$ 100 e outro, R$ 400. Por que todos os professores têm que ser tratados igualmente? Tem os bons e os ruins. Então é preciso valorizar o desempenho, não só do docente, mas de todo mundo que trabalha na escola, da merendeira ao diretor. Por isso que daremos um abono para quem cumprir as metas. Nosso objetivo é tornar o Rio referência em 12 anos. Em 2013, já queremos estar entre os cinco melhores do país. Para isso, criamos metas anuais. Há um plano pedagógico para cada segmento e vamos avaliar permanentemente para identificar os problemas e atacá-los. A estratégia está toda casada. Se a gente errar, eu me desculpo, mas tudo foi feito pensando em melhorar a educação de vocês.
Fonte: O Globo
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Na Luta pela Escola Pública
Este blog pretende criar um espaço para informações e discussões sobre Escola Pública na Região dos Lagos, com destaque para o município de Cabo Frio.
O nome “Pó de Giz” é tomado, por empréstimo, do antigo time de futebol dos professores do Colégio Municipal Rui Barbosa. Um colégio reconhecido por sua luta pela educação pública de qualidade. Um lugar onde fervilha a discussão educacional, política e social. Colégio que contribui de maneira significativa na formação de seus alunos, lugar onde se trabalha com o sentido do coletivo.
O " Pó de Giz" é uma singela homenagem a essa escola que tem um "pequeno" espaço educacional, mas corajoso e enorme lugar de formação cidadã.
sexta-feira, 29 de abril de 2011
O secretário estadual de Educação do Rio, Wilson Risolia, recebe estudantes da rede pública e responde sobre passe-livre e o plano de metas para melho
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