Na Luta pela Escola Pública

Este blog pretende criar um espaço para informações e discussões sobre Escola Pública na Região dos Lagos, com destaque para o município de Cabo Frio.

O nome “Pó de Giz” é tomado, por empréstimo, do antigo time de futebol dos professores do Colégio Municipal Rui Barbosa. Um colégio reconhecido por sua luta pela educação pública de qualidade. Um lugar onde fervilha a discussão educacional, política e social. Colégio que contribui de maneira significativa na formação de seus alunos, lugar onde se trabalha com o sentido do coletivo.

O " Pó de Giz" é uma singela homenagem a essa escola que tem um "pequeno" espaço educacional, mas corajoso e enorme lugar de formação cidadã.


domingo, 19 de junho de 2011

Texto do Professor Henrique do C E Barão de Mauá -Xerém


Sou professor há mais de 30 anos, 25 no Estado. Nunca vi uma política pública de educação no Estado do Rio, algo que fosse implantado após ter sido discutido exaustivamente com os professores e pedagogos, que ficasse e crescesse no governo seguinte, já que é fundamental à educação dos jovens. O Estado nunca soube o que querer de fato como uma política pública que levasse seus filhos a serem educados, trazidos ao portal do saber que promove a ascensão social em sentido amplo e irrestrito.

Se houve alguma coisa que pôde ser chamado de política pública, restringiu-se no máximo às escolas centrais, aquelas em que a imprensa sempre recorre quando tem de escrever sobre educação, sobre política pública. Nesses casos, não pode ser chamada senão de maquiagem, de experimentalismo panfletário de alguma ideologia de governo cara-de-pau.

A responsabilidade desse fracasso é diretamente do governante, é ele que tem de aglutinar gente capacitada (professores, pedagogos, profissionais da educação) para criar e fazer gerir tal política, sem interferência de partidos interessados em lotear a arena pública, como acontece agora em Brasilia e certamente nos estados. Indiretamente é de todos nós que votamos. O atual governo do Rio vem com ideias - sim, ideias, e não política pública! - em que se valoriza o prêmio ao professor. Jocosamente assim: "Professor, faz com que esse aluno tire nota boa, que lhe darei 500 reais! Topa?"

Ora, educação não é competição, mas é lugar de construção paulatina da consciência, erguimento da subjetividade, descoberta das linguagens. Consciência do tamanho de que vou me fazendo. Subjetividade de sujeito, dono do que me pertence, do que faz parte de minhas responsabilidades e alcances, como ser social pensante, falante e habilitado à profissão por que vem o sustento justo meu e dos meus entes queridos. E de minhas linguagens múltiplas, não apenas a que me é imposta pela cultura da ascensão social, mas também aquela com que me apresento à escola nos primeiros dias de minha vida estudantil e que até então me constituiu, a mim e a meus pais e familiares e vizinhos, e exige respeito, mesmo a frase não tendo todos os “s” da marca de plural, por exemplo, tentando agora trazer à tona aquela questão do “livro do MEC com erros”.

A escola é de todos, é pública, e não de algum partido, de algum diretor a-coronel -ado. Repetindo: ela é 100% pública, pertence tanto a quem for do asfalto, do palácio, do apartamento, quanto a quem habitar morros, sítios e vales. Ninguém isolado é dono dela, somente todos juntos somos seus donos, dizemos o que queremos que ela faça. Disto surge a política pública.

Querer colocar, em breves anos, o Rio no topo de algum índice oficial, medidor de sucessos ou fracassos em educação, tirando-o do posto de lanterninha da educação brasileira, é salutar, (“Vêm aí os Jogos Olímpicos, a Copa”, dizem preocupadas algumas pessoas, talvez até envergonhadas de mostrar a ‘casa’ tão desarrumada assim), mas o gestor de tal ousadia terá de passar por dentro das verdades da sala-de-aula, das linguagens que lá de fato rolam, tanto de alunos, quanto de professores. Terá de mexer com o que de mentiroso e ruim as escolas, ano após ano, vêm praticando, como é o caso da atual recuperação, que não recupera ninguém, apenas para citar um exemplo.

Quando vou a uma festa, me arrumo, perfumo. Quando a escola for à festa, seja a da Copa, das Olimpíadas (tais datas vêm preocupando autoridades), ou à festa em que ela celebra nada mais que seus ganhos consecutivos, batalhados no dia-a-dia de seus trabalhos, também deverá se arrumar, não se esconder envergonhada. Permitirá que se conheça a força da consciência que ela, engajada em uma verdadeira política pública de educação, terá desenvolvido de si, como sujeito de sua própria história, e não assujeitada à história de outros; como desenvolvida em suas linguagens, sempre tão plurais, testemunhas dela mesma, vigorando-se a cada dia. É sonho? é querer de mais?

Quem pensar assim, que experimente a educação, a escola à base de prêmios: “Professor, faz isto que lhe dou aquilo!”. Também isto não é um sonho, uma irrealidade?
Na verdade, acho que um pesadelo, que não vejo a hora de passar.

Prof. Henrique dos Reis
Junho de 2011
Rede Estadual em Greve

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