Na Luta pela Escola Pública

Este blog pretende criar um espaço para informações e discussões sobre Escola Pública na Região dos Lagos, com destaque para o município de Cabo Frio.

O nome “Pó de Giz” é tomado, por empréstimo, do antigo time de futebol dos professores do Colégio Municipal Rui Barbosa. Um colégio reconhecido por sua luta pela educação pública de qualidade. Um lugar onde fervilha a discussão educacional, política e social. Colégio que contribui de maneira significativa na formação de seus alunos, lugar onde se trabalha com o sentido do coletivo.

O " Pó de Giz" é uma singela homenagem a essa escola que tem um "pequeno" espaço educacional, mas corajoso e enorme lugar de formação cidadã.


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Senhoras Secretárias e Senhores Secretários de Educação

Senhoras secretárias, senhores secretários, por favor, não tentem inventar a roda. Parem de inventar projetos, projetinho, projetões. Parem de distribuir o dinheiro da educação por ONGs amigas e por contratados para tentarem fazer o que os professores tem que fazer.
O dinheiro da educação tem que ser gasto COM A EDUCAÇÃO E COM OS EDUCADORES E EDUCADORAS. Basta dar condições a nós, profissionais da educação, e nós faremos o que devemos e sabemos fazer.
Sim, ao contrário do que vocês pensam, nós sabemos fazer!
E, sim, nós, profissionais da educação. Porque não somos políticos com cargos indicados, temporários, vindos de qualquer área da politicagem em troca de sei lá o que vocês dão em troca.
Porque nós somos profissionais da educação que estudamos, treinamos, capacitamos, pensamos em como fazer o que deve ser feito (e por favor, não se considerem profissionais da educação porque me ofenderiam).
Então basta que nos dêem condições, desde a nossa atuação na mais tenra infância (creche, pré-escola), passando pelo 1º e 2º segmentos do fundamental e o ensino médio.
Então, deixo uma dica pra vocês. E de graça. ok? Não precisam me pagar consultoria milionária (nem baratinha, porque essa não existe):
Pra revolucionar a educação não precisa muita coisa, bastam 5 passos:
1º) Contratar os professores, com salário decente e compatível, para uma só escola, por 40 horas, com dedicação exclusiva, como os professores das universidades.
Da mesma forma, não nos obrigar a estar 40 horas dentro de sala de aula, mas, além da sala de aula: fazendo planejamento; discutindo com os colegas; fazendo formação continuada; pensando e aplicando projetos na escola; trabalhando individualmente ou em grupos pequenos com aqueles alunos com maiores dificuldades, para além da sala de aula; desenvolvendo oficinas (artes, cultura, literatura, esportes, ciências...); desenvolvendo pesquisas sobre o cotidiano escolar; atendendo e conversando com os responsáveis dos alunos, dentre outras atividades.
Não pensem que a escola, a educação, a formação de um cidadão se dá exclusivamente no enclausuramento do professor e do aluno em sala de aula!

2º) Colocar os alunos efetivamente em horário integral na escola.
Friso ,na escola, para não deixar margem àquela enganação de bairro escola ou outras baboseiras que colocam meia dúzia de alunos no contra turno em alguma atividade e alardeiam que a escola é de horário integral. Alunos entrando 8 h (horário de gente normal) e saindo às 17 h, pra ir pra casa. Ou seja, escola de um só turno, como em todo o resto do mundo. Escola de 3 turnos (e, em alguns casos escabrosos, até de 4 turnos!) só no Brasil dos Absurdos.

3º) Limitar o quantitativo de alunos dentro de sala de aula, independente do tamanho da sala de aula! Desde a educação infantil até o 9º ano, 15 alunos é o ideal, 20 é aceitável.
Mas por que isso, senhoras secretárias, senhores secretários? Porque a educação, no caso de crianças e adolescentes, se faz na interação aluno professor, no contato, no dia a dia, no conhecimento mútuo um do outro, na troca, nas perguntas e respostas.
E, como vocês deveriam saber mas não sabem, isso é impossível em uma sala com um professor e 40 alunos (muitas vezes adolescentes carentes de tudo em plena ebulição hormonal).

4º) Uma escola estruturada.
Sala de projeção preparada pra colocar a apresentação (filme, curta, power-point, seja lá o que for); sala de leitura com responsável aberta o dia inteiro; sala de informática com responsável aberta o dia inteiro (e com mais de 10 computadores funcionando!!!); material didático sem limites, mas também sem distribuição forçada entre os alunos; xerox pros professores; internet wireless banda larga decente; computadores disponíveis nas salas, sala dos professores, sala de leitura e outros locais; sala de ciências, sala de artes e de outras disciplinas; quadra de esportes decente (até mesmo mais de uma), com vestiário, materiais esportivos e outras necessidades; áreas de lazer, áreas de descanso, áreas de jogos e brincadeiras; salas para atividades culturais (música, dança, pintura...)... Enfim uma escola estruturada.

5º) Outros profissionais na escola para atuarem junto aos professores(as). Psicólogos(as), pedagogos(as), assistentes sociais, médicos(as), dentistas, nutricionistas, dentre outros.
Senhoras secretárias e senhores secretários, as crianças que recebemos são carentes de tudo, como já disse aqui. Desta forma, o que elas não tem lá fora : apoio, conversa e assistência. A escola tem que dar. Simples.
É só.
Para isso necessita-se de investimento de verdade na educação, não de mentirinha. Mas dinheiro sabemos que tem, né?

Depois disso, senhoras secretárias e senhores secretários de educação, podem nos cobrar o que quiserem. Podem nos cobrar resultados, podem nos cobrar melhoras no ensino, podem nos cobrar trabalho, presença, felicidade, etc
Podem nos cobrar um Brasil melhor daqui a uns 20 ou 30 anos.

Declev Reynier Dib-Ferreira .
Prof. Da EM Mascarenhas de Morais

Texto publicado no Boletim do Sepe Regional I

2 comentários:

  1. Parabéns por divulgar, o texto é primoroso! Quisera nossos políticos fizessem ao menos a metade do que está aí...

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  2. Realmente este texto é incrível. Dá uma verdadeira lição de como pode ser simples fazer educação.
    Mas quem disse que nossos governantes querem isso?
    Fazem o discurso do investimento, mas interessa-lhes a manutenção do que temos, afinal estão sendo eleitos, reeleitos, não é mesmo??

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